05 julho 2006

Esta do Reinaldo Azevedo merece ser transcrita integralmente!

Quarta-feira, Julho 05, 2006

Eu quero ser oprimido e pauta para os jornais
Uma boa pauta para os jornais: como e do que vivem os presidentes, ou assemelhados, de ONGs que protegem os oprimidos. Gostaria de saber a rotina dessas pessoas, suas obrigações funcionais, a quem prestam contas das verbas que recebem e dos gastos que autorizam, o seu rendimento médio na comparação com o da “população” que elas atendem e com o dos brasileiros em geral. Não daria um Esso de jornalismo, mas poderia nos ensinar a todos a olhar o mundo de um outro jeito. Podem ser incluídas as ONGs que cuidam de bichos, vegetais, minerais e problemas siderais. Vamos dar de cara com uma sociedade seqüestrada por guildas ou corporações de ofício, que querem, a todo custo, impor à maioria a sua agenda de minoria. Sou alérgico a gergelim — alergia daquelas que matam. Vou criar uma ONG. Vou ver se aquelas fundações católicas alemãs que adoram financiar picaretas terceiro-mundistas não me dão uns trocados. Deve haver uns 300 alérgicos a gergelim no Brasil, o que já é mais do que boa parte das tribos protegidas. Se for preciso, a gente até inventa uma língua e, assim que chegarem os jornalistas, começa a cantar à beira de algum riacho, feito aquelas mulheres que trançam palha ou lavam roupa no rio, sempre a entoar melodias antigas, telúricas, a cada vez que se liga a câmera do Globo Repórter. Também quero ser pobre, humilde, afrodescendente, indígena, protegido, exótico, sei lá eu... Cansei dessa vida de macho, branco, ocidental, cristão e conservador. Nós somos os novos negros do mundo, e ninguem quer saber da gente. Tá bom, fica o macho; o resto eu negocio por 30 dinheiros... Quando eu chegar ao auge da sofisticação picareta, darei conselhos sobre educação, cidadania, problemas urbanos, o bem, o belo, o justo, o verdadeiro, o humano e o essencial. E farei tudo isso de braços dados com o capital, é claro, mas vou tratá-lo com azedume. Porque também serei um homem com fama de independente. No auge da minha carreira de grande benfeitor da humanidade, serei, enfim, um perfeito canalha.